Nos sete ensaios desse livro, Sampaio nos oferece, em florilégio, por sucessivas sugestões fundamentadas, boas razões para revermos nossa suposição de certeza quando dizemos: mas é claro!, mas é lógico!
O mais provável é que estejamos então nos enganando, subditos a cacoetes centenários, se não milenares, portanto sem nos darmos muita conta de que outras talvez mais ricas e mesmo mais adequadas articulações nos seriam de melhor serviço diante desta ou daquela questão que agoraqui eventualmente nos açoda.
A lógica não é uma: as lógicas são várias. E não ficam todas elas assim arrumadinhas na mesma prateleira, mas em alturas diversas e mesmo em posições distanciadas. Qualquer estudante melhorzinho sabe disto, mas com freqüência não sabe, nem ele nem os seus palrantes professores, que todos os esforços mais ou menos brilhantes, mais ou menos eficazes, de achar as soluções mais necessárias ao melhor entendimento desse caos que cada vez mais e mais nos interroga ou mesmo nos assola, não cabem dentro do escopo assim exíguo de suas tão comportadas escolas: suas sacolas tão apertadas. Mesmo que seja, por exemplo, aquela dos supostos ‘matemas’ de Lacan, no tratamento das supostas ‘fórmulas quânticas’, e nada mais nada menos – ainda por cima da carne seca - do que da sexuação humana.
Vocês não perdem por não esperar e lerem logo os ensaios de Sampaio para verem como as lógicas mais usuais, como a clássica por exemplo, se tornam acanhadas sob o seu escalpo – e mesmo aquelas mais recentes, mais abertas, como a paracompleta e a paraconsistente, se mostram claramente em sua dependência para com articulações que na verdade lhe são hierarquicamente superiores.
Não estranhem também qualquer impressão de “‘espiritualismo’ desvairado” quando as bases do que se possa lucidamente chamar-se de espírito no cômputo mais geral de nossa cultura se mostrarem visíveis, ou quando o encaminhamento mais ou menos arriscado de um rigor inarrestável procure prometer-se desvelar “o ADN de espírito” – hoje em dia talvez mais necessário do que aquele tão festejado do genoma biológico desta espécie atualmente tão perplexa e tão descorçoada.
O leitor que faça o que quiser, para o quê nunca se precisou de sugestão ou de licença. Quanto a mim, prefiro apostar na lida do Sampaio: para vermos até onde é que isso pode ir e aonde é que isso enfim vai poder dar.
Talvez ninguém queira – ainda – providenciar um troféu para o Sampaio: e que lhe faça jus, é lógico, é claro, embora por bem outras lógicas vias que não as costumeiras das premiantes academias. Mas a ele mesmo pouco tem importado toda a falta de prêmio e de reconhecimento que mais freqüentemente entre nós a gente colhe. E é bem capaz de ainda vir a escrever mais sete e mais sete... E mais e mais ainda ele escrevera, per omnia secula seculorum, podemos todos disto estar bem certos, “não fora para tão longo amor tão curta a vida”.
MD Magno
Rio de Janeiro, julho de 2000
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