“A razão exige e reclama que exista uma ciência universal (uma lógica, se diria) de todas as ciências, e com princípios universais nos quais estejam implícitos e contidos como o particular no universal, os das outras ciências mais particulares....”. Isto está, afora o parêntese, na Ars Magna et Ultima de Raimundo Lúlio (1235-1315), o mais imaginativo e notável lógico escolástico e, segundo Bochenski, um dos inspiradores da busca leibinziana de uma mathesis universalis, projeto que, bem se sabe, assinala o renascimento da lógica na Modernidade. Ao acabar de ler Sete ensaios a partir da lógica ressuscitada de Coelho de Sampaio me fica a impressão que afinal o ambicioso anseio do pensador maiorquino encontrou uma segunda vez, na era moderna, quem não só o retomasse, tanto estimasse e, sobretudo, o levasse às últimas conseqüências. Depois de recuperar toda uma tradição lógica recalcada pelo formalismo acadêmico dominante, reorganizar o território lógico, refundando, de modo preciso e homogêneo, cada uma das lógicas a partir de seus respectivos princípios característico e, ainda, tomar por empréstimo o formalismo da mecânica quântica para com rigor identificar tradicionais valores de verdade a valores próprios operatórios, Coelho de Sampaio parte para a crítica dos fundamentos dos saberes particulares - a matemática, a antropologia, a psicanálise, a cosmologia -, e os resultados, há que se concordar, não poderiam ser mais surpreendentes, profundos e sobremaneira convincentes.
Devo notar que, em geral, é muito difícil aos contemporâneos dizer, dentre eles, em tempo, quem o próprio tempo irá poupar. Excepcionalmente, entretanto, tratando-se de filosofia nesta passagem de século, no Brasil, que dúvida ainda haveria que Luiz Sergio Coelho de Sampaio e suas lógicas ressuscitadas vão ficar?
Jorge Jaime
da Academia Brasileira de Filosofia
autor de História da filosofia no Brasil
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