A lógica da diferença em parceria com a lógica da identidade e o concurso de uma operação de síntese dialética generalizada (generalização da aufheben hegeliana) são suficientes para gerar todas as demais lógicas – dialética, clássica, etc.
A lógica da identidade ou transcendental (Kant, Fichte, Husserl) é aquela do pensar consciente, do mesmo, do necessário, da autodeterminação, formalmente, lógica intencional e reflexiva – I(x)=I(I(x)), ou seja, ser consciente de algo é ser consciente de que se é consciente deste algo. Em contraposição, a lógica da diferença é aquela do pensar inconsciente, do outro, do contingente, do ser afetado, formalmente, lógica da negação – D(x)=D(D(D(x))) ou seja, negar algo é negar três vezes este algo.
A lógica da diferença apresenta três valores de verdade: verdadeiro, falso e um terceiro (não excluído); este último podendo se realizar como verdadeiro e falso ao mesmo tempo, isto é, paradoxal, ou, como indeterminado, nem verdadeiro nem falso. No primeiro caso temos a realização paraconsistente (depressiva) da lógica da diferença; no segundo caso, a sua realização complementar, paracompleta ou intuicionista (maníaca).
A noção de lógica da diferença, proposta por L. S. C de Sampaio, vem unificar um conjunto disperso de manifestações negativistas – contra a excessiva soberba lógico-transcendental, contra o totalitarismo dialético, contra a desesperança lógico-formal –, cuja essência, entretanto, seria ainda assim lógica, o que, aliás, é bem próprio de uma lógica do inconsciente, lógica que se esgueira. Aqui estão compreendidas a lógica do coração em Pascal, a lógica do paradoxo em Kierkegaard, a lógica do jogo de forças irresolutas e do eterno retorno do mesmo em Nietzsche, o logos heraclítico recuperado em Heidegger, a lógica do significante em Lacan, a lógica do pior em Rosset e muitos outros pensares por ai dispersos ou diferidos.
Referência básica: SAMPAIO, L. S. C. de. A Lógica da Diferença, Rio de Janeiro, EdUERJ, 2001
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