*Este trabalho é uma versão, só em pequena monta corrigida ou modificada , de artigo com o mesmo título publicado no Jornal do Brasil de 7 de setembro de 1980.
O mundo das telecomunicações está passando por uma revolucionária transformação tecnológica no sentido do analógica para o digital; é o que se diz por toda parte. Pressente-se que esta transformação não vai se limitar aos subterrâneos da técnica, mas invadirá toda a esfera econômica e, a partir daí, as demais dimensões da vida social. Em suma, a revolução tele-informacional irá desaguar numa igualmente profunda revolução cultural onde estaremos todos em jogo, sem exclusão, quer do coxo, do cego, do isento, do desligado, quer mesmo dos insensatos. Não ignoramos que assertivas desta natureza já não mais causam espanto de tão amiudadamente repetidas nos dias que correm. Mas porque todo este alarido? Simples modismo? Julgamos que não: toda esta falação reflete uma sensibilidade alerta, porém, ainda pobre de entendimento, daí, seu expressar-se pela pura repetição. Tentar ir um pouco mais a fundo se nos afigura irresistível tentação; lancemo-nos, pois.
De pronto, seja-nos permitida uma pequena digressão conceitual, imprescindível para a compreensão das considerações que adiante faremos. Trata-se da oposição analógico versus digital. Nela esconde-se uma grave, ainda que explicável, confusão conceitual. Analógico e digital não podem ser simplesmente contrapostos em razão de pertenceram a categorias inteiramente distintas.
Analógico nos diz do modo de relacionamento de duas coisas de diferentes níveis de realidade, de algo e de seu representante ou sinal. Uma caricatura, por exemplo, constitui um signo analógico da pessoa visada, pois, em caso de êxito, deixa transparecer uma relação de similitude estrutural entre ambos, significante e referente.
Ao contrário, digital refere-se a um determinado modo de ser em seu universo próprio, no caso, de um sinal (ou significante). Mais precisamente, digital diz da característica de se ter um valor determinado dentre um conjunto discreto e finito de valores previamente fixados. Ilustrar-se-ia assim: embora as pessoas tenham alturas que se distribuem num quase contínuo, apenas registramos em suas fichas biométricas valores discretos de alturas medidas em centímetros - um metro e setenta, um metro e setenta e um etc. - fazendo caso omisso de quaisquer valores intermediários. Algo bem semelhante ocorre com nossos pés e os números dos calçados de linha, excluindo-se, naturalmente os calçados sob medida.
Poderíamos já aqui proceder a uma primeira correção conceitual substituindo o termo digital por discreto, porém, pra não recair em erro de categoria, entendendo o último não como atributo de um sinal, mas como qualificativo da relação de um conjunto de sinais discretos vis-à-vis seus referentes, contínuos ou não. Retomando um dos exemplos citados, diríamos que as alturas das pessoas em centímetros, registradas nas fichas biométricas, constituem sinais ou representações discretas do praticamente contínuo das alturas das pessoas.
Aqui impor-se-ia a pergunta: em que a discretização pode ser uma virtude? A resposta é que, em si, virtude alguma ai haveria. Pelo contrário, assim fazendo assumimos a perda evidente de discriminações possíveis. Então, por que fazê-lo?
Não é difícil responder. Existem duas razões fundamentais para tanto. Em primeiro lugar, devemos lembrar que, não raro, pretendemos transmitir sinais a distância sabendo que, ao fazê-lo, no percurso, surgirão distorções, como a superposição de ruídos de espécies variadas. Entretanto, no caso de sinais discretos será possível , em certa medida e circunstâncias, reconstituir o original já que, a priori, o destinatário pode ter conhecimento da variedade finita de valores que estarão sendo transmitidos. Nas transmissões, as distorções e a quantidade de ruído aumentam proporcionalmente à distância. Tratando-se de sinais discretos de forma pré-determinada é factível, ao longo do percurso, colocar equipamentos repetidores capazes de a) reconhecer e escoimar as distorções já sofridas reconstituindo o sinal como originalmente gerado b) proceder a uma ampliação do sinal reconstituído e passá-lo ao próximo repetidor e, assim sucessivamente, até que chegue ao destinatário. Deste modo engenhoso neutraliza-se o efeito da distância sobre a fidelidade do sinal transmitido. Coisa semelhante não pode ser realizada com um sinal contínuo pois não é possível perceber o quanto de distorção acontecida (há o recurso à transmissão por caminhos diversificados, mas de eficiência limitada).
Há ainda uma segunda e não menos importante razão para a discretização dos sinais. Apenas um repertório discreto pode ser finito e o sendo, ficar susceptível de que se o faça corresponder, de modo exaustivo, a um outro repertório. E o que é mais importante: possibilita-nos realizar tal correspondência de forma absolutamente arbitrária ou convencional. Se codificarmos um conjunto de estados ou coisas com um repertório de sinais de modo arbitrário e dermos prévio conhecimento desta convenção a um grupo de possíveis receptores, poderemos despistar ou mesmo enganar a todos os demais que desconheçam tal correspondência; em especial, poderemos burlar, até certo ponto, a própria natureza com sua presença costumeiramente ruidosa.
Fica patente, pois, o duplo mérito da discretização: um imediato, permitindo a neutralização das interferências (ruídos crescentes com a distância) através da reconstituição, passo a passo, do sinal original; outro, mediato, decorrente da sua posterior convencionalização (codificação propriamente dita). No velho código Morse vamos encontrar, entre outros, um exemplo marcante: para as letras S e O foram escolhidas representações distintas opostas, três traços e três pontos, respectivamente. Assim torna-se dificilmente confundível a dramática mensagem SOS, marcada pela enfática alternância de traços e pontos que só nela ocorre.
Este último aspecto é de tal modo relevante, veremos, que melhor intitularíamos nossa transformação revolucionária como passagem do analógico ao convencional do que pela repetida expressão do analógico ao digital. Esta é a segunda correção conceitual que desejávamos oferecer. É óbvio que podemos continuar a usar a expressão corriqueira, porém, é importante que bem compreendamos o que se está realmente dizendo. Retornemos de nossa já longa digressão.
Queremos agora asseverar que a passagem do analógico ao discreto/convencional assinala as grandes transformações na história da cultura, podendo, por isso, ser olhada como a forma geral de toda a evolução planetária. Parece um exagero, não?! Mas vejamos. A própria natureza, burlando a si mesma, se fez concomitantemente natureza morta e natureza viva ao constituir o código genético. Algo que se formara, talvez ao acaso, passava a multiplicar-se, não por similitude de forma ou processo de construção, mas tão simplesmente por herdar informação, informação esta discretizada e codificada, feita programação, quase imune às dramáticas vicissitudes da “sopa primordial” de onde provinha. Que nos falte o rabo, que tenhamos duas ao invés de seis ou cem pernas, pulmões no lugar de guelras, que algumas morenas tenham lindos olhos verdes, nada disso podemos verdadeiramente enxergar no óvulo fecundado. Mas lá está escrito desde a primeira hora na linguagem codificada da natureza orgânica. Figuradamente, átomos podem ser tomados como letras, bases ligadas a açucares e fosfatos, as poucas palavras desta linguagem miraculosa , enfim, as macro-moléculas de ADN, o texto helicoidal definindo os traços fundamentais, tanto físicos quanto mentais, de cada nova criatura.
E burlou também a natureza viva a si mesma criando, diferenciados dos demais, os organismos dotados de sistema nervoso central; assim: desenrolou-se a natureza viva dos cordados partindo dos protocordados, passando pelos anfíbios répteis e outros, chegando até aos mamíferos e daí ao homem. Os mecanismos de natureza homeostática, à base de fluxos substanciais formalmente analógicos, que até então se responsabilizavam pela integridade e capacidade adaptativa dos seres vivos viam-se suplantados por um mecanismo muito mais sutil de regulagem por fluxos informacionais discretos e convencionais transitando e sendo processados no sistema nervoso central.
A partir de então os organismos vivos passavam a dispor de um espaço interno onde poderiam representar tanto o meio externo como seus próprios estados e impulsos e, além, simular diferentes cursos de ação sem pagar o elevado preço da experimentação efetiva. Constituía-se, por extensão, o espaço imaginário onde eles poderiam refugiar-se provisoriamente fugindo das pressões do mundo exterior; se explicarem mal ou bem através dos mitos, gozarem da irreversível abertura poética; até mesmo, drástica e definitivamente, proporem-se como enigma e se dissolverem na loucura. Começava aí o reino da angústia, mas também o da liberdade ou, o que é o mesmo, ganhava-se a consciência com seu avesso inconsciente.
E a já diferençada natureza-homem, dispersa em bandos e hordas, superou-se, burlando-se como sempre, indo de uma intercomunicação analógica por gritos e murros, urros e sussurros afetuosos ao pé do ouvido, para um sistema convencional de codificação de atos e coisas - deste e doutros mundos - pois tudo isso tornava-se viável também. Criamos nossa atual linguagem.
Não testemunhamos nós mesmos nossos filhos recapitularem semelhante percurso, indo da linguagem analógica de suas primeiras manifestações comunicativas ao pleno domínio da linguagem corrente , até alcançarem o nível convencional dedutivo (lógico formal) por volta dos doze a quatorze anos?
Não se sabe se pouco ou muito tempo depois desenvolveu-se a agricultura no vale dos grandes rios da Ásia Grande e Menor e do norte da África; começava a civilização. Homo loquens, não se deu ainda por terminado e diferençou-se em classe de escribas e outros, meros analfabetos. Embora já falando em código convencional, a escrita começa analógica entre os sumérios de quem foi provavelmente adotada e desenvolvida pelos egípcios. A passagem do analógico ao convencional neste campo principia na Síria, em meados do segundo milênio a.C.; toma forma estável com os fenícios que, ao expandirem-se pelo Mediterrâneo, provavelmente levam-na à Grécia.
Entrementes, o convencionalismo mantinha-se a meio caminho, vale dizer, apenas silábico. É justamente na Grécia que ocorre a ruptura em profundidade; é ali criada a vogal, conseqüentemente, a consoante. A escritura não mais representaria diretamente os fonemas, mas o exato comando de um compacto programa para produzi-los.
Já por volta de 850 a.C. os gregos possuíam um bem estabelecido alfabeto. O alfabeto latino fixa-se antes do último século a.C. Estava então completa a revolução do analógico ao convencional na escrita.
Como não evocar aqui o célebre episódio bíblico referente à adoração do bezerro de ouro pelos judeus em contraposição à Tábua das Leis que lhes aportava Moisés?! A exemplaridade do episódio decorre do fato dele assinalar, no plano religioso, a enorme significação social da passagem do analógico ao convencional, pré-requisito simbólico para pensar-se o Deus de Israel, logicamente uno.
Vindo um pouco mais para a atualidade não seria esta também a melhor forma de explicar o boom tecnológico do Ocidente? Libniz, homem de muitas facetas, empenha-se na busca de uma utópica, porém sugestiva, mathesis universalis, isto é, de uma digitalização/convencionalização completa da linguagem natural que nos livrasse das ambigüidades e conseqüentes errâncias análogo-metafóricas que estariam estorvando os caminhos da precisão técnica?
O anseio libniziano concretiza-se com a mensuração generalizada que vinha possibilitar a matematização do discurso sobre a natureza. Juntando-se a isto o comprometimento experimentalista completavam-se as bases da ciência natural moderna. O contínuo fenomênico foi substituído pela tríade instrumento-padrão de aferição-número medido, o último expressando a relação da grandeza particular com a anterior grandeza padrão. A temperatura de um corpo, para ilustrar, não seria mais designada pelas palavras quente, frio ou qualquer qualidade intermediária mais ou menos vaga. Aquilo que se podia afirmar com precisão ficava amarrado primeiro, a um instrumento, no caso o termômetro, segundo, pela referência implícita a padrões bem estabelecidos - estados de congelamento e de ebulição da água -, terceiro, pela asserção de um número lido na escala termométrica. A expressão ‘febre elevada’ era substituída pela afirmação ‘febre de trinta e nove graus centígrados’. A correlação entre as grandezas numericamente expressas deu nascimento à sintética formulação das leis universais da natureza. Isto, mais um pouco de imaginação e outro tanto de determinação, veio desaguar no que hoje denominamos modernas tecnologias produtivas.
Teria sido possível, todavia, a escalada tecnológica do Ocidente sem que, no plano social as coisas se arranjassem doutro modo do que aquele prevalecente no modelo absolutista que inaugura a modernidade, de excessiva concentração de poder de decisão em mãos de uma reduzida aristocracia? O Ocidente Tecnológico por certo ter-se-ia inviabilizado sem um concomitante Ocidente Político, sem o fortalecimento das assembléias legislativas, sem a distribuição do próprio poder executivo estatal por uma base burocrática bem mais ampla e instruída, sem que se valorizasse o direito contratual, vale dizer, convencional e, acima de tudo, sem uma conscientização política de parcela apreciável da população quanto aos seus diretos históricos/fundamentais, entre eles, o de participar de algum modo nas decisões gerais da nação. A tomada de consciência buscou expressão e acabou por consegui-lo, como não poderia deixar de ser, na circunstância, digital ou numérica; populariza-se o mecanismo do voto, funciona a aritmética política, configura-se o estado liberal.
Em resumo, tanto no plano técnico-econômico como no sócio-político, o Ocidente se fez impondo-se, ainda que de modo desigual, nem sempre harmônico e consciente, uma linguagem discreto/convencional por sobre a arcaica linguagem analógica. Esta última passou então a coadjuvante e refugio-se nos sonhos e nas artes que, como contrapartida, tiveram seus movimentos devidamente vigiados. Os que não se adaptaram ou aceitaram esta bem emoldurada marginalidade foram, enviados, como sói acontecer, aos manicômios. Afinal, toda mudança, ao cabo, cobra a sua fatura!
Ainda mantendo-nos na atualidade, acerquemo-nos um pouco dos confins da periferia. Isto talvez nos proporcione uma perspectiva para a compreensão de nossa própria condição.
Se uma relativa harmonia entre os planos técnico-econômico e sócio-político, ambos falando uma linguagem discreto/convencional, constituíam a própria razão de existência do centro dinâmico do Ocidente, o que ocorria em sua periferia? Em termos gerais, esta história já nos é bem conhecida, embora todo acento venha sendo posto nas relações técnico-econômicas. Poder-se-ia redargüir que, também no plano sócio-político sofreu-se ou tentou-se a mesma importação de padrões e modelos; quem não tentou ali copiar a constituição americana ou francesa e o comportamento político britânico?!
Mas, todos sabem, isto jamais funcionou adequadamente. Por quê?
Arriscaríamos o seguinte esboço explicativo: no plano técnico-econômico o que estava em jogo eram relações homem/natureza, onde o investimento afetivo é muito menor do que no plano sócio-político onde se jogam relações homem/homem. É importante não esquecer que, originariamente, nossos impulsos de amor e ódio, ao emergir na esfera simbólica, apenas dispunham da linguagem analógica e foi por aí que se expressaram, tal como, recorrentemente e sempre, acontece às crianças.
Nessas circunstâncias é muito difícil que se supere totalmente a linguagem analógica no plano das relações sociais. Quanto, ainda hoje, se apela às “técnicas” analógicas para manter a unidade sócio-política das nações periféricas - a figura carismática, a simbologia ufanista, a retórica sacrificial? Quantos de nós, no fundo, não dão preferência à metáfora desvairada, mesmo que manifestamente mentirosa, ao invés da “tediosa” argumentação lógica?
Dada a maior proximidade que o símbolo analógico tem com a realidade concreta - bem maior do que aquela que se constata no símbolo convencional - quem mais se atém àquele, mais facilmente desconhece a fronteira entre o concreto e o simbólico. Este é justamente o espaço onde se faz viável toda bruxaria. Sejamos sincero: quão freqüentemente apelamos a estas “técnicas” para resolver, melhor diríamos, exorcizar nossos problemas reais? Quando manipulamos índices de inflação e assemelhados, na verdade, não estamos pretendendo enganar ninguém; é nossa mais profunda convicção que assim fazendo estamos efetivamente propiciando um refreamento do processo inflacionário. Julgamos que sobre o assunto nos é conveniente parar por aqui *.
O descompasso entre as transformações simbólicas nos dois planos citados, parece-nos, constitui a razão profunda de nossa dificuldades crônicas com o desenvolvimento. Os regimes de força têm sido o expediente amiudado para superar tal impasse, mas quão rapidamente abandonam sua fraseologia racionalista para apelar à retórica imaginosa, depois imaginária e por fim à violência alucinada?!
E tudo tem que começar de novo, o que, diga-se de passagem, já não é para nós nenhuma novidade.
Em suma, acreditamos que as considerações acima são mais do que suficientes para, se não convencer, pelo menos para chamar a atenção sobre o significado da transformação do analógico ao convencional, seja qual for o âmbito em questão.
Que pensar agora da nossa atualíssima e célere transformação do analógico ao digital/convencional no campo das telecomunicações?
Luiz Sergio Coelho de Sampaio
Rio, 7 de setembro de 1980
______________
* É bom lembrar que à época da publicação vivíamos sob um governo autoritário e, pior, exercíamos, esticando a corda no que podíamos, a vice-presidência de uma grande empresa estatal.
A história que aqui nos interessa começa há mais do que cento e cinqüenta anos com a invenção do telégrafo, utilizando uma técnica digital primitiva o que, aliás, se mostraria em flagrante conflito com tudo que até aqui se vinha dizendo. Evidenciando, porém, a completa excepcionalidade deste começo, tão logo se passou a dispor de uma técnica para o tratamento analógico dos sinais, esta veio dominar, quase que com exclusividade, o campo da telecomunicações.
Iniciava-se então a era do telefone. Só recentemente o desenvolvimento da micro-eletrônica veio dar viabilidade técnico-econômica a novas concepções na transmissão e comutação de sinais digitais. Paralelamente, o desenvolvimento e barateamento dos computadores pressionava no sentido da ampliação das facilidades de teleconsulta a banco de dados e de teleprocessamento forçando, assim, a digitalização das redes de telecomunicações. Configurava-se, já então, o início da revolução analógico-digital nas comunicações. Mas a coisa não ficou aí: a confluência da infra-estrutura da telecomunicação com a informática, bem como sua crescente imbricação a nível sistêmico, deu à luz um novo campo da ciência e da técnica - a teleinformática.
Nos países mais avançados já funcionam bancos de dados de toda espécie acessáveis, seja por telefone e telex, seja por microcomputador ou terminais especializados de dados mais ou menos inteligentes. Já é também realidade o acesso, ponto a ponto ou comutado (rede de pacotes), ao teleprocessamento em computadores de médio e grande porta. Muitos serviços de interesse público e âmbito nacional já superpõem-se às redes comutadas específicas para dados: por elas fluem informações de toda ordem, processa-se a reserva automática de passagens, a transferência eletrônica de fundos intra e interbancária e tantos outros serviços.
Os custos iniciais do processamento e armazenamento de dados sabe-se, caíram de um milhão de vezes desde o início da era dos computadores até o momento presente; a perspectiva para os próximos vinte anos é que a redução de preços vá ocorrer em escala semelhante. Antes que tal aconteça, é óbvio, a teleinformática estará entrando por nossas portas e janelas, forçando mudanças nos hábitos de nos informar e interligar socialmente; ampliando a diferença entre pais e filhos, que os últimos , por suposto, adaptar-se-ão bem mais depressa; perigosamente alargando a diferença entre iniciados e não iniciados e, por certo, muito mais que nem ainda conseguimos vislumbrar. Não há dúvida de que isto ou parecido advirá, porém, importaria perguntar: até que ponto chegaremos a ser sujeitos destas transformações e não apenas vítimas objetivas? Esta não é uma questão meramente especulativa, mas tem suas implicações concretas e funcionais com nossa problemática sócio-política, nossas dores de cabeça inflacionárias e nosso inquietante endividamento externo tanto presente como, principalmente, futuro.
Pode-se realmente afirmar que por não conseguirmos encarar questões gerais desta natureza é que estamos onde estamos. Elas precisam ter um tratamento menos leviano, diríamos melhor, menos analógico-sentimental; faz-se imperiosa, no caso, a mobilização do melhor de nossa ainda mal-exercida capacidade linguística discreto-convencional. Assim, talvez, cheguemos a formar uma idéia, ainda que vaga, para onde vamos, simplesmente porque estaremos pela vez primeira, ao mesmo tempo, andando e pensando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário