Foi até bastante fácil tirar da cartola (lógica) um robusto casal de pombos. Bastou abrir as mãos e partiram eles céleres sobrevoando a platéia. O ritmo do bater de asas puxou, em uníssono, palmas da primeira à fila mais longínqua. Entusiasmados, pediram: um coelho, como seria mesmo de praxe! Também não foi difícil. Houve palmas, no entanto, surpreendentemente, já menos intensas. Vamos, nos dê prova que é mesmo o melhor: retire agora vivo um belo cabrito! Algumas dificuldades apareceram, malgrado, agarrei o bicho lá dentro pelos chifres e o expus de quatro atônito sobre o tablado. Os aplausos tornaram-se preguiçosos e raros; e dava para se ouvir bem os primeiros apupos. Alguém arriscou aos berros: um dromedário! e logo todos o seguiram. Foi necessário solicitar alguma ajuda na hora certa de por para fora a enorme corcova; afinal, acabou passando. Emitiram, à uma, um oh prolongado, do mais profundo desgosto. Entrementes, piedoso e cheio de coragem, alguém fez mais alta sua voz: sejamos justos! Que lhe seja dada a chance derradeira: um elefante e aí, sim, desistimos! Um zás de silêncio e, de repente, se fizeram unânimes cada um a seu modo: grande parte urrando, outros assobiando com dois dedos enfiados na boca, todos batendo mais forte que podiam os pés no chão; estavam todos a olho nu ensandecidos.
Conjeturo cá comigo: é muito peso e, a esta altura, me sinto um pouco cansado. Depois, não há mais como postergar a escolha: o sucesso já ou, quem sabe um dia, a História. Fico com os netos.
L. S. C. de Sampaio
Rio, 20 de outubro de 2001
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